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Uma imagem vale menos que 10 palavras

Já lá vai o tempo em que uma imagem tinha poder, agora uma imagem é o enfeite propagandístico do texto que a acompanha e nem sequer de todo o texto, basta o título. O texto ninguém lê até ao fim, a imagem é vista à luz do título ou do contexto e mesmo que baste observar com um pouco de atenção para perceber que não tem nada a ver com o texto, ninguém repara, porque toda a gente já tem uma ideia preconcebida do que a imagem ilustra .

Não acreditam? Dois exemplos recentes: a baleia de plástico e as mulheres-assento de autocarro. No Brasil alguém escreveu num site que é suposto denunciar mentiras e injustiças um texto com o título: "O mundo chora. Baleia encontrada morta na praia estava cheia de garrafas pets, lixos e sacos plásticos". O texto desenvolvia o tema e a ilustração era... uma escultura representando uma baleia, feita de lixo e sacos de plástico. Na Noruega um homem pôs uma foto num grupo do facebook e escreveu apenas "o que acham disto?" e a maioria das pessoas viu seis mulheres com burcas num autocarro. Não eram; eram só os assentos vazios; o encosto de cabeça torna-os parecidos com vultos humanos. Mas o grupo era de protesto contra a imigração muçulmana, por isso toda a gente viu o que queria ver.

O fotojornalismo já terve muito impacto, no passado. Hoje em dia não tem peso quase nenhum. Toda a gente tira fotos a tudo e toda a gente usa fotos roubadas para ilustrar todo o tipo de textos e tudo o que se vê e o que se lê é percepcionado de raspão, na diagonal, pela rama. Não há solução que um fotógrafo ou jornalista possa dar a este problema, temos mesmo que ser todos nós, os membros do público, a população toda do mundo, a ter sentido crítico e a fazer a triagem. Antes havia fotojornalistas heróicos a mostrar a uma população até aí mantida na ignorância o que era a realidade, agora há mais imagens amadoras e anónimas da realidade do que imagens feitas por fotojornalistas profissionais e todas essas imagens juntas se encontram, caoticamente misturadas, na Internet. Portanto agora acabaram-se as desculpas. Não podemos mais responsabilizar quem quer que seja pela informação que temos, a Internet permite-nos ir buscar a informação, confirmá-la, contextualizá-la e tirar as nossas conclusões. Se pararmos de partilhar sem ver o que partilhamos e de responder a textos que não lemos e a imagens que não observámos a sério, então a informação passa a ser a melhor possível. A responsabilidade é nossa, basta termos coragem - não a coragem dos fotógrafos de guerra, não a coragem de se arriscar a perder a vida, mas a coragem de se arriscar a perder a popularidade: é que é realmente arriscado ser quem chama a atenção dos amigos no facebook para o facto de terem caído na esparrela e terem publicado assentos de autocarro julgando que eram mulheres de burca!

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