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A arte é subjectiva? Nem por isso.

É difícil definir a arte, é difícil sobretudo definir-lhe os limites, mas é possível definir os limites do que é uma obra de arte. Uma obra de arte é algo único e original produzido com a intenção de provocar uma reacção, uma emoção estética. Isto é objectivo, pelo menos tão objectivo como qualquer área das ciências humanas consegue ser. O que é totalmente subjectivo é o gosto, não a arte.

Para se aprender a apreciar devidamente a arte é preciso compreender a enorme diferença entre o valor artístico de uma obra e o seu valor social (e comercial) e o seu valor afectivo.

Mas o que é a emoção estética? A mais básica é "achar bonito". Quando preferimos uma flor vermelha a uma flor amarela sem termos mais nenhuma razão senão gostarmos mais da cor vermelha, isto é uma escolha estética. Mas pode ser estético sem ser "bonito", pode ser fascinante de uma forma dura, séria, angustiante, etc.; é estético desde que seja baseado apenas em gostarmos de olhar para a imagem só pela imagem. Um dos elogios mais bonitos que ouvi a um quadro meu numa exposição foi "dá vontade de ficar parado a olhar em silêncio". É uma excelente definição de uma emoção estética. "Mas isso não é subjectivo?", dirão vocês. Parcialmente, sim, mas como a percepção é mais ou menos igual para todos há uma boa base de consenso. (Quantas pessoas acham o pôr-do-sol feio?) Aquilo que estraga tudo não é essa pequena margem de subjectividade, é a enorme confusão entre a emoção estética e as emoções que se lhe colam. Por exemplo, mostro um quadro que representa uma natureza morta com figos e uma pessoa diz "não gosto nada de figos, fazem-me dores de estômago!" Isto, obviamente, não é uma emoção estética, mas condiciona a maneira como a pessoa adere ou não ao quadro. É perfeitamente natural que isto aconteça, é perfeitamente natural que uma pessoa goste de um quadro por razões afectivas e não estéticas, porque lhe lembra um momento feliz da sua vida, porque evoca um sentimento ou uma filosofia de vida de que a pessoa gosta, etc. Tudo isso junto é que faz o gosto - o tal que, no meio disto tudo, é o único que é verdadeiramente subjectivo.

Parece simples, mas a maioria das pessoas falha completamente nisto. porque a maioria das pessoas confunde a sua reacção emocional a uma coisa com uma opinião sobre ela.

Uma opinião é a conclusão de um raciocínio sobre dados da realidade. Por exemplo, uma pessoa lê estatísticas de demografia, pensa no assunto e chega à conclusão que as pessoas deviam ser incentivadas a ter mais filhos. Outra pessoa lê a mesma estatística, pensa também no assunto, mas chega à conclusão contrária. Isto não quer dizer que as opiniões são subjectivas, quer dizer que a realidade tem tantos factores que é difícil equacioná-los devidamente. Alguém há-de estar errado nessa discussão, mas é um erro honesto e a opinião é válida, desde que seja fundamentada.

Só que a maioria das "opiniões" sobre arte é tudo menos fundamentada! Quantas vezes passei eu por este diálogo: "para mim este quadro não presta" "porquê?" "é a minha opinião!" Ou, pior ainda: "não podes discordar, cada um tem as suas opiniões". Nunca ouviram dizer que gostos não se discutem? Exactamente, gostos não se discutem, opiniões sim. Porque as opiniões são fundamentadas e os seus fundamentos podem e devem ser discutidos. Se uma pessoa me diz "não gosto das mulheres da Paula Rêgo" eu não tenho nada a dizer, se me diz que estão mal desenhadas caio-lhe em cima como uma carga de tijolos com toneladas de argumentos e não ne contento com uma resposta tipo "não podes contestar, é a minha opinião"!

Mas então como se pode julgar da qualidade de uma obra de arte? Há vários critérios e neste blog tenciono falar em todos eles e contribuir para diminuir a confusão entre gostar de um quadro porque está na moda, porque é de um artista famoso, porque é de alguém de quem gostamos, porque nos faz lembrar a nossa infância, porque veicula a nossa ideologia ou porque realmente tem uma imagem que cria em nós uma emoção estética especial. Como artista e como professora isto é muito importante para mim - e como pessoa também: não há nada mais frustrante do que tentar dialogar com uma pessoa que acha que "para mim esta é a verdade" é um argumento!

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