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Terços gigantes: as mentes medianas pensam da mesma maneira

Grande polémica sobre a obra "Suspensão" de Joana Vasconcelos: já alguém fez terços gigantes, no Brasil. A artista diz que há símbolos que pertencem a toda a população de uma determinada cultura e que cada artista os interpreta à sua maneira. O terço dela, de facto, é de PVC e não de esferovite, tem uma iluminação diferente e tem a sua própria estrutura. Mas não pode negar que é um terço gigante à mesma e que o seu valor específico como obra de arte é ser... um terço gigante! A execução da ideia é mais bem pensada e mais elegante (e provavelmente muito mais cara) que a do terço brasileiro de que se tem falado, mas é um terço gigante à mesma. Mas é plágio?

Sabem quando nos pedem que criemos um nome de utilizador num site e pensamos "tenho uma ideia mesmo fixe para um nome!", escrevêmo-lo e descobrimos que já existe? Pois, isso é plágio involuntário. Como no título deste texto: as mentes medianas pensam da mesma maneira. Acredito plenamente que a Joana Vasconcelos não plagiou o terço brasileiro pela simples razão que a ideia de fazer um terço gigante é tâo básica, tão óbvia, tão imediatista que passaria pela cabeça de qualquer artista mais ou menos conceptual que se aproximasse dum santuário mariano.

A questão principal, para mim, não é a do plágio, é se vale a pena fazer uma obra cujo valor estético está só ou quase só no impacto do tamanho, sobretudo quando isso anda a ser feito há décadas. Sim, este terço é diferente, mas basta ver a lista das diferenças para se perceber a pobreza estética e conceptual da obra: é feito de outro material, tem uma iluminação diferente e tem o seu próprio suporte. E esta pobreza mental não é de modo nenhum exclusiva da Joana Vasconcelos, faz parte do panorama geral da arte semi-conceptual, que anda a ser "vanguardista" e "revolucionária" há cerca de 100 anos. E da falta de coragem artística. Os semi-conceptuais nunca se arriscam; se dizemos "isto não tem valor estético como objecto" dizem "ah, mas é a parte conceptual que conta!", se dizemos "este conceito já foi usado pelo Duchamp ou o Andy Warhol" dizem-nos "ah, mas os materiais e a execução são diferentes!" Afinal em que é que ficamos? Estamos perante uma obra de arte "à antiga", formal, para ser fruída esteticamente pela imagem que nos apresenta, pelo objecto que é, ou estamos perante uma obra de arte conceptual, em que o valor estético é o do conceito por trás do objecto? Parece que a ideia é que estamos a meio caminho entre uma coisa e outra ou entre ambas e a Disneylândia e que tudo isto acaba por ser uma forma de indústria artística em que se cria uma marca e se fica fiel a ela, para o bem e para o mal. A Joana Vasconcelos é aquela que faz objectos gigantes, com ou sem recurso a materiais esquisitos reaproveitados, e é isso, ao fim e ao cabo, o que o público espera dela e até ficaria decepcionado se não recebesse. Todos os galeristas o sabem: o público espera que o artista faça sempre a mesma coisa que o tornou famoso, quer que o artista seja previsível. Por isso é que quase toda a gente espera sempre o mesmo e quase todos os artista fazem sempre o mesmo. Como eu disse: as mentes medianas pensam da mesma maneira.


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